sexta-feira, 21 de junho de 2019

Um São João do Sul










Já que estamos em época de São João, hoje tem fotos de uma festa junina em São João do Sul, um distrito de Guaratinga, extremo sul da Bahia.
Eitaaaaa! Antes que você me questione uma foto em preto e branco abrindo uma história de São João eu já respondo. Se nesses lugares distantes tudo estivesse “preto no branco”, a vida seria menos conturbada.


O dia amanhece e a neblina ainda esconde parte da pedra e a cruz fincada na gruta lá no alto. A vida segue pelas estradas do lugar. Seja a pé, de bike ou montado no Rocinante, tocando uma boiada. Aqui não vem Don Quixote "e Deus, mesmo se vier, que venha armado", já teria dito Guimarães.






Os anjos tocam trompetes ao invés de trombetas, afinal de contas, a falta de verba nesses lugares é crônica. Fala-se muito mas no final ninguém tem peito para “botar a boca no trombone”. Os ventos vem e vão balançando as bandeirolas e a festa acaba momentaneamente a discussão.


Capoeiristas decretam a felicidade e anunciam na praça a chegada do São João. Agora pode atirar à vontade, pagando, claro, R$ 5,00 por três tiros, mas só ganha o prêmio se derrubar a caixa no pano, ou se for mais esperto que o dono da banca.




Claro que tem forró, caldo de pinto e munguzá. Quando o sanfoneiro puxa o fole “é mijador no mijador, relando o bucho até ariar a fivela!”










Por lá nem sempre é festa, mas trabalho duro. Povo que vive do conteúdo das caixas no mercado municipal e aos sábados a vaca nunca vai para o brejo, mas para o açougue.




terça-feira, 11 de junho de 2019

Diversa Fé - Romeiros de Juazeiro do Norte






  

O as romarias no município de Juazeiro do Norte remontam há 120 anos, quando era apenas um vilarejo. A população que vivia nas poucas casas que lá existiam contava com a liderança espiritual do Padre Cícero Romão Batista.



Em primeiro de março de 1889, circulou nos arredores do vilarejo a notícia que hóstias consagradas estavam se transformando em sangue na boca da beata Maria de Araújo.
O fato se repetiu por diversas vezes durante cerca de dois anos, sendo logo considerado um milagre pelos fiéis. Desde então levas de católicos passaram a visitar o povoado em busca dos conselhos e da benção do “Padim Ciço”.


  

Juazeiro do Norte cresceu no entorno da fé popular. As romarias cresceram e a cidade cresceu junto com o dinheiro dos romeiros. A fé está em toda parte, principalmente nas bancas de lembranças dos comerciantes locais.

    



Os romeiros tradicionais, vestem-se como pessoas que pararam no tempo. Chegam em grupos, normalmente usam chapéu e suas roupas de romaria, distintas do cotidiano, remontam a primeira metade do século XX.





Param em pontos de oração ao longo da subida para o santuário, onde depois de rezar e dar alguma esmola a pedintes que se agrupam nas calçadas da via, seguem seu caminho de penitência e fé.







Juazeiro do Norte atrai cerca de 2,5 milhões de romeiros e penitentes por ano. São inúmeras romarias durante o ano, sendo a maior delas a de finados, que atrai aproximadamente 400.000 fiéis.
  Apenas nos meses de junho e agosto a cidade não tem romaria, mas romeiros sempre são sempre encontrados em qualquer época do ano.


sexta-feira, 7 de junho de 2019

Gente de fibra





Os que trabalham no plantio, coleta, beneficiamento ou transformação do agave sisalana são gente de fibra, muita fibra, como o próprio sisal. O trabalho inicia ainda pela madrugada, bem antes do sol nascer, quando a temperatura ainda é amena, mas logo o tempo esquenta e às 11 horas só dá para trabalhar na "ceva".


Trabalhar embaixo do sol forte do sertão é penoso e a renda é pequena. Normalmente o sisal é fruto da agricultura familiar e quando contratam alguém é para trabalhar na "ceva" alimentando a voracidade da "paraibana", porque de outro jeito não compensa. Tem que produzir os 450 kg de fibra por dia, senão é prejuízo na certa. 




Para chegar na lida, não precisa de estudo, só precisa de força, força para aturar o sol todos os dias, força para não perder a mão na “paraibana”, força para conseguir sobreviver com dignidade recebendo, às vezes, menos que o salário mínimo.



O "Caldeirão do Boi Valente", ou simplesmente Valente, cidade da região do semiárido baiano, da Bahia é conhecida como "A capital do sisal". Houve um tempo que as “paraibanas” decepavam a mão de cevadores enquanto desfibravam a folha.

Ainda hoje, não é incomum, ver amputados trabalhando, porque o trabalho precisa ser feito. A corda que tecem é a mesma que amarra a vida de quem trabalha na fibra.


Nas cordoarias as “paraibanas” cedem sua vez para as pneumoconioses, que enchem o pulmão dos trabalhadores de fibras e mata lentamente os que não usam equipamento de proteção. E assim vai a vida do sertanejo, homem de fibra. Fibra até no pulmão.