sexta-feira, 7 de junho de 2019

Gente de fibra





Os que trabalham no plantio, coleta, beneficiamento ou transformação do agave sisalana são gente de fibra, muita fibra, como o próprio sisal. O trabalho inicia ainda pela madrugada, bem antes do sol nascer, quando a temperatura ainda é amena, mas logo o tempo esquenta e às 11 horas só dá para trabalhar na "ceva".


Trabalhar embaixo do sol forte do sertão é penoso e a renda é pequena. Normalmente o sisal é fruto da agricultura familiar e quando contratam alguém é para trabalhar na "ceva" alimentando a voracidade da "paraibana", porque de outro jeito não compensa. Tem que produzir os 450 kg de fibra por dia, senão é prejuízo na certa. 




Para chegar na lida, não precisa de estudo, só precisa de força, força para aturar o sol todos os dias, força para não perder a mão na “paraibana”, força para conseguir sobreviver com dignidade recebendo, às vezes, menos que o salário mínimo.



O "Caldeirão do Boi Valente", ou simplesmente Valente, cidade da região do semiárido baiano, da Bahia é conhecida como "A capital do sisal". Houve um tempo que as “paraibanas” decepavam a mão de cevadores enquanto desfibravam a folha.

Ainda hoje, não é incomum, ver amputados trabalhando, porque o trabalho precisa ser feito. A corda que tecem é a mesma que amarra a vida de quem trabalha na fibra.


Nas cordoarias as “paraibanas” cedem sua vez para as pneumoconioses, que enchem o pulmão dos trabalhadores de fibras e mata lentamente os que não usam equipamento de proteção. E assim vai a vida do sertanejo, homem de fibra. Fibra até no pulmão.

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